Frase do dia: “O Minhocão seccionou todo o bairro de Santa Cecília e, à maneira do Muro de Berlim, deixou órfãos milhares de moradores dos prédios localizados nas suas laterais, obrigados a conviver com o ritmo frenético dos carros e a poluição por eles produzida”. Elisabete França, arquiteta e urbanista.

ARQUITETA E URBANISTA DENUNCIA

CRIME DE LESA-PATRIMÔNIO URBANO

Desmonte Elisabete  França

 Dra. Elisabete França
Arquiteta e Urbanista (*)

CAI O VIADUTO CARIOCA

DESMONTE DA PERIMETRAL

A DERRUBADA DA PERIMETRAL DO RIO DE JANEIRO,

INICIADA NA MANHÃ DE 24 DE NOVEMBRO DE 2013,

REPRESENTA, PARA O BRASIL,

A MORTE DO URBANISMO RODOVIARISTA.

A QUEDA, EM APENAS CINCO SEGUNDOS,

DOS 31 PILARES DOS PRIMEIROS 1.050 METROS

DEMOLIDOS DA VIA SUSPENSA

SIGNIFICA A MUDANÇA DO PARADIGMA URBANO

QUE PRIVILEGIA O TRANSPORTE INDIVIDUAL DE ALTA VELOCIDADE.

EM POUCO TEMPO OS CARIOCAS TERÃO ESQUECIDO OS TRANSTORNOS DA LOCOMOÇÃO E DO DESPERDÍCIO DO DINHEIRO PÚBLICO, MAS TERÃO COMO RETORNO O REDESENHO DA REGIÃO PORTUÁRIA DA CIDADE.

     (…) “Ao longo de toda a sua extensão, a Perimetral foi sendo implantada sem um mínimo de atenção aos edifícios históricos localizados em seu percurso, e menos ainda à relação entre a cidade e a baía da Guanabara. A barreira de concreto elevada foi construída, deixando um rastro de escuridão e feiura. No seu caminho, não importou respeitar os conjuntos históricos que fazem parte da memória do país, como os cinco pavilhões do Mercado Central da praça 15, inaugurado em 1907, dos quais restou apenas uma estrutura, hoje ocupada pelo restaurante Albamar.

     Tampouco foi dada atenção ao espaço público mais emblemático da cidade do Rio de Janeiro – o conjunto da praça 15 de Novembro, ladeada por prédios que contam a história colonial e imperial do país. Lá estão o Paço Imperial, a igreja do Carmo, entre outras importantes referências. Os edifícios que hoje abrigam a Casa França Brasil e o Museu Histórico Nacional ficaram quase encobertos pelo viaduto. E, mais deprimente, a extensão da praça 15 até o cais Pharoux e a estação das barcas simplesmente deixaram de existir.

     Os bairros cortados pela Perimetral passaram por um processo rápido de desvalorização urbana. Os antigos moradores foram abandonando suas casas e comércios, os galpões se esvaziaram e os baixios da via elevada foram tomados por uma sombra urbana, desprovidos não só da luz do sol, mas especialmente de sinais da vida urbana. A prevalência dos carros e da velocidade exigida se consolidou nessa parte da cidade.


     Com o passar dos anos, a cidade foi tomando consciência do crime de lesa-patrimônio urbano cometido contra a paisagem do Rio de Janeiro, recentemente elevada à condição de Patrimônio Cultural da Humanidade. A via elevada obstruiu a relação da parte histórica da cidade com o mar, afirmando uma modernidade que não se importa com a memória, com o passado ou com a história.

     E pior, na sequência da implantação da Perimetral carioca, outras cidades decidiram copiar o modelo incentivador da velocidade e dos carros.

     Em São Paulo, o Minhocão, construído na década de 1970, secionou todo o bairro de Santa Cecília e, à maneira do Muro de Berlim, deixou órfãos milhares de moradores dos prédios localizados nas suas laterais, obrigados a conviver com o ritmo frenético dos carros e a poluição por eles produzida, em substituição às paisagens urbanas anteriores”. (…)

          Trecho de artigo publicado na revista PROJETO DESIGN,  Edição 407 e transcrito no Site ARCOWEB, pioneiro na publicação digital de projetos de arquitetura no país.

Desmonte Elizabete França 1       Nascida na cidade de Curitiba, Elisabete França se formou na Universidade Federal do Paraná (UFPR), é mestre pela FAU-USP e doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

     Com mais de 25 anos de experiência em projetos urbanos, ambientais, habitacionais e gestão de projetos participativos; atualmente é diretora do Studio2E Ideias Urbanas e professora em cursos de graduação e especialização, em instituições como a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e o núcleo de estudos USP Cidades.

     Entre 2005 e 2012, ela foi Superintendente na Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), acumulando entre 2009 e 2012 a função de Secretária Adjunta.

     Durante oito anos, coordenou a elaboração do Plano Municipal de Habitação e os principais programas habitacionais, entre eles a Urbanização de Favelas, Mananciais, Requalificação de Cortiços, Locação Social, Regularização Fundiária, Projetos Habitacionais nas Operações Urbanas Faria Lima e Água Espraiada.

     Nesse período o seu trabalho permitiu um grande avanço na discussão do espaço na habitação popular, contratando um grande número de excelentes escritórios de arquitetura e, desde 2000, a arquiteta tem atuado na área de consultoria junto a organizações internacionais como o Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e UN-Habitat, com projetos desenvolvidos em mais de 15 países.

     Há mais de três décadas tem se dedicado à divulgação da arquitetura e urbanismo promovendo eventos, concursos e exposições no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e na Secretaria de Habitação. Em 2002, ela foi curadora – com Glória Bayeux – da exposição “Favelas Upgrading”, apresentada no Pavilhão Brasileiro durante a 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza. 

http://arcoweb.com.br/projetodesign/artigos/desmonte-perimetral-elisabete-franca

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