Documentário sobre Minhocão e gentrificação
é um (necessário) tapa na cara
O documentário Ponto de Vista, feito como TCC
de conclusão do curso de jornalismo por Caroline
Carvalho, Fabio Santana e Ingrid Mabelle, levanta o
debate sobre o processo de gentrificação em torno do
Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão.
Prédios ao lado do Minhocão
Com entrevistas com políticos (incluindo o
prefeito Fernando Haddad), urbanistas e,
claro,moradores, o filme traz, como o nome promete,
diferentes pontos de vista sobre o assunto, além de
discutir alternativas para o local, entre propostas de
demolição e criação de um parque.
Segundo a diretora do documentário, Ingrid
Mabelle, “a inspiração para o trabalho surgiu ao
acompanhar os debates sobre a transformação do
Minhocão e perceber que raramente as pessoas que
moram ou frequentam a região eram ouvidas”.
TCC de conclusão de curso de jornalismo do
Centro Universitário FIEO,
finalizado em dezembro de 2015.
Direção: Ingrid Mabelle Roteiro e produção: Caroline Carvalho. Fabio Santana e Ingrid Mabelle Captação: Fernando Zamora Sob orientação de: Luiz Carlos Seixas
Dr. José Geraldo Santos Oliveira, morador,
Síndico e Advogado – Eu moro aqui há anos e
logicamente eu consegui adquirir um imóvel neste local.
Nesta localização. Se eu tivesse outra condição
financeira, teria adquirido nos Jardins, em Moema, em
Perdizes, na Lapa. Enfim, em bairros que tem valorização
espontânea imediata. Mas, de acordo com meu padrão
de vida, padrão econômico, consegui adquirir um imóvel
neste local, nesta localização.
A economia da cidade está degradada por causa
do Minhocão. Existe a degradação dos imóveis aqui do
entorno do Minhocão. Existe a degradação dos imóveis,
lógico. Mas porque isso? Porque eão inóspita do
Minhocão faz com que seja dessa forma.
Não vai haver super valorização como muita gente
fala. Super valorização existe em Moema, Ibirapuera,
Morumbi etc etc. Aqui, em Campos Elíseos, Santa Cecília
é inexistente.
Não se trata de questão política. O viés que a
gente trata aqui é o viés de saúde. Eu acho que o político
que for esperto , tiver visão de futuro da cidade de São
Paulo, vai absorver, vai abraçar a idéia do Desmonte do
Minhocão.
Porque é benéfico não só para nós que moramos
aqui. Mas é benéfico para a cidade. É benéfico para o
estado. Vai dar arrecadação. Então aquele que tiver visão
de futuro, vai abraçar nossa idéia. Não precisa ser muito
inteligente para perceber isso.
O Minhocão não feito para evento, corrida, para
show, para qualquer coisa nesse sentido. Isso aqui é um
viário, para os automóveis passarem.
Eu acho que a cidade deve ser das pessoas. Das
pessoas que residem ali. Não das pessoas que vem de
outros locais, de outras cidades, de outros bairros, para
ocupar aquele espaço. Eu acho que aquele espaço
pertence as pessoas que moram naquela região.
Vereador Ricardo Young, Vereador e Sócio-Ambientalista:
Eu definiria o Minhocão como uma das coisas mais horríveis que a gente tem em São Paulo!
O Minhocão desvalorizou todas as propriedades ali e acabou criando de uma forma reversa, um novo perfil populacional, que se beneficiou do barateamento das moradias. Claro que em condições muito ruins, mas acabou se beneficiando disto.
O Minhocão do ponto de vista urbanístico é
horrível!
Do ponto de vista estético é horrível!
Sob o ponto de vista de qualidade de vida de
todo seu entorno é horrível!
Sob o ponto de vista da sustentabilidade é
péssimo!
O grande problema do centro é que o poder público
gostaria muito que as construtoras fizessem o retrofit .
Que pegassem as construções existentes e as
modernizasse. As construtoras não tem interesse em
fazer isso porque é mais caro. Então o que elas tem
interesse em fazer? Que se desvalorizem o máximo as
propriedades no centro para que elas depois comprem a
um preço de banana, implodam e possam construir o
novo prédio e assim por diante.
Eu imagino uma cidade para as pessoas. (…) Uma
cidade que promova o bem estar. Em que a lógica da
cidade gire em torno do bem estar. E não em torno do
viário, não em torno da construção civil, não em torno de
políticas sociais que marginalizam o ambiental, ou
políticas que atropelam a identidade, a tradição da
cidade.
Nabil Bonduki, Vereador e Secretario da
Cultura: Construir uma mega estrutura, que danificou,
um monstrengo, que danificou bairros, que acabou
com uma avenida como a Avenida São João, uma via
tradicional da cidade, para única e exclusivamente para o
transporte individual, realmente não tem sentido dizer que
tem alguma coisa positivada.
Deve haver uma gradual restrição até o completo
fechamento do Minhocão para o automóvel. E diz (o
Plano Diretor)que uma lei especifica os prazos dessa
desativação e o que será feito com ele: se ele será
demolido parcial ou integralmente ou será transformado
em parque.
João Sette Whitaker, Prof. de Urbanismo da
FAU-USP: A maneira como vai ser feita isso, não é o
Plano Diretor que define. Faz-se a lei do zoneamento e
as leis específicas ou os decretos, as decisões
específicas da Prefeitura, na hora de lidar
especificamente com o desmonte do Minhocão.
Ninguém está lembrando esse fato: de que em
volta do Minhocão existe uma população que mora e que
é uma população mais pobre. E que por ficar quarenta
anos lá suportando carros e gás carbônico deveria ter o
direito absoluto de ficar naquele lugar.
(…) Isso é uma espécie de cidade da África do Sul
que se reproduz aqui. Essa cidade não pode ser boa.
Camila Domitila Cunha, moradora: Seis da tarde
começa ambulância… carros… tudo… na verdade … e eu
trabalho muito no Skipe com pessoas de fora e tem um
cliente em Minas que eu converso com ele e ele fala:
Meu Deus! Como é que você trabalha nesse lugar?! É
o inferno!
A poluição é muito muito muito grande ! Então eu
limpo a casa num momento e cinco minutos depois está
tudo cheio de pó.
Ele é um rasgo no meio da cidade totalmente
desnecessário. Então, para que transformar este rasgo
num parque, sendo que você pode demolir?
Quer fazer um parque dele? Faz na parte
debaixo. Fecha a rua. Fecha a São João.
Ou escolhe uma área que não é tão urbanizada para fazer um parque.
Tathiana Bagatini e Rene Munoz: Eu imagino
que quem mora no térreo, deve ser pior.
Fica preso embaixo do viaduto, como uma
tampa, quem está no térreo talvez essa poluição fique
mais concentrada.
Prefeito Fernando Haddad: Você pode tomar uma
decisão burocrática: vou demolir. Ou vou transformar em
parque.
O que seria ruim: uma decisão burocrática,
qualquer que seja. Ou você chama a atenção da
cidade para aquele espaço privilegiado … mas que tem
uma cicatriz … e faz as pessoas imaginarem coisas. E
começarem a discutir o assunto.
https://www.youtube.com/watch?v=FZrgLzHoKeU