“Minhocão deve ser desmontado
e não demolido”,
diz doutor em Arquitetura
Para Doutor em Arquitetura e Urbanismo, Elevado Costa e Silva já nasceu obsoleto e não deve ser demolido nem convertido em parque, mas desmontado
“Minhocão é uma cicatriz”
por André Vieira – Metro Jornal
São Paulo, 04/04/2016
Prof. Dr. Lúcio Gomes Machado
Doutor em arquitetura e urbanismo pela USP (Universidade de São Paulo), Lúcio Gomes Machado era um jovem recém-formado quando o elevado Costa e Silva, o popular minhocão, há duas quadras da sua casa, foi inaugurado, em 1971, como um presente de aniversário para São Paulo.
Naquele época o professor talvez não soubesse que a obra viária resistiria a quatro décadas e meia como a mais polêmica da cidade, mas já tinha uma certeza: “a sua construção era um erro”.
Qual a sua primeira impressão sobre o minhocão?
O minhocão já nasceu ultrapassado, pois imitava as vias expressas dos Estados Unidos, mas num tempo em que estas já estavam sendo desfeitas por lá.
Quando começou, as pessoas já não o queriam, mas o prefeito Paulo Maluf conseguiu empurrar goela abaixo. Vivíamos em uma ditadura e o projeto foi pouco questionado.
Quais eram os desafios de trânsito quando o minhocão foi construído?
Não havia uma via rápida que ligasse as zonas leste e oeste porque a marginal ainda estava incompleta, então, havia uma desculpa para o minhocão existir, embora o prefeito nunca tenha apresentado estudo que indicasse sua necessidade.
Com o tempo essa condição mudou?
Muito. Passam hoje, em média, 70 mil carros por dia pelo minhocão, o que é ínfimo perto do trânsito da cidade. Além do mais, a maior parte não o usa para fazer a ligação total, mas apenas para pular os semáforos das avenidas lá embaixo.
Segundo estudo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o trânsito do minhocão seria absorvido pelas ruas do entorno em um mês, fora as duas faixas de cada lado que poderiam ser criadas com a sua eliminação.
A obra oferece algum benefício para a cidade? Nenhum. É só prejuízo urbanístico e para o desenvolvimento imobiliário da cidade. É uma barreira urbana, uma cicatriz.
Qual a solução?
Defendo o desmonte do minhocão.
A sua demolição custaria entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, mas o desmonte permitirá o reaproveitamento da estrutura para a construção de outras obras, como pontes e passarelas.
O corte do concreto pode ser feito a noite e sem gerar entulho. A eliminação do minhocão vai garantir que toda a região volte a ser o que era, com seus belos prédios e a praça Marechal Deodoro, que hoje é um lixo.
Além do mais, o fim do minhocão valorizaria uma área de 500 metros de cada lado, ao longo dos seus cerca de três quilômetros.
A última proposta da prefeitura, de fechar o elevado por um período prolongado, como forma de teste, é necessária?
O desmonte pode ser feito imediatamente, isso é só um passa-moleque para consolidar dois processos: de se criar um parque em cima e distribuir quiosques embaixo.
Depois de fechado, vão dizer: “viu como é legal?” Mas não é.
O minhocão não pode receber grande concentração de público. Não há guarda-corpo, não há saída de emergência. Um acidente pode ser fatal.
Nota da Redação do MDM:
Prof. Dr. Lúcio Gomes Machado possui graduação em Arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1969), Mestrado (1881) e Doutorado (1992) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo ).
Atualmente é professor doutor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Socio-Diretor de GMAA – Gomes Machado Arquitetos Associados Ltda e Linha d´Água Difusão Cultural Ltda.
No Instiuto de Arquitetos do Brasil, foi membro de seu Conselho Nacional, diretor do Departamento de São Paulo, no qual atuou como Vice Presidente.
Foi Coordenador Geral e Diretor da seção brasileira do International Working Party For Documentation And Conservation Of Buildings.
Foi Conselheiro do CONPRESP e do CONDEPHAAT.
Foi Curador da III e da IV Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
Tem experiência nas áreas de Arquitetura e Urbanismo e de Desenho Industrial, com ênfase em História da Arquitetura e História do Design.
Atua profissionalmente nas áreas de Arquitetura e Urbanismo, Desenho Industrial, Programação Visual e Construção Civil, além de Editoração e Preservação do Patrimônio Cultural e Arquitetônico.