Minhocão: entre parque e derrubada
O cofundador da Associação Parque Minhocão A.
Comolatti e a urbanista Elisabete França divergem
sobre qual seria o melhor destino para o Elevado Costa e
Silva, no centro de São Paulo:
ser posto abaixo ou preservado como área de lazer?
É esse o assunto da conversa com a jornalista
Mariana Barros, autora do blog ‘Cidades Sem
Fronteiras’.
Acompanhe.
Mariana Barros: (…) O grupo contrário, a idéia (de
“parque”) no Minhocão é o grupo que defende a
derrubada daquela estrutura, porque isto liberaria os
apartamentos de estarem aguentando o barulho, a
poluição o dia inteiro e melhoraria parte debaixo também.
Porque é uma área complicada: é mal frequentada, em
termos de … assim… você não tem um comércio ativo; a
movimentação de pedestres é complicadíssimo.
E você tem uma escuridão que é complicadíssima
porque você tem exatamente esta estrutura suspensa ali,
impedindo a ventilação e a iluminação natural.
Eu queria saber de você, Beth, o que você acha
que seria uma solução para o Minhocão, em termos de
uso ou mesmo de futuro.
Dra. Elizabeth França, Urbanista: O uso quando ele está fechado, as pessoas usam para lazer, é uma solução paliativa.
Eu acho que São Paulo pela sua dimensão, pela sua importância, como a maior cidade da América Latina, ela tem que dar exemplos dessa linha que as cidades estão buscando do século XXI.
Que é uma cidade com menos carros, menos transporte individual.
Então a derrubada do Minhocão que terá que ser feita a partir de um plano, com um prazo, ela não é só boa porque recupera essa região de quilômetros da cidade, para os moradores, dos apartamentos, para aqueles que usam embaixo, que atravessam a rua, que pegam um ônibus, que sofrem uma poluição constante, se recupera dois, três bairros da cidade, com uma nova avenida embaixo e mostra que é possível você ter transformações, se ter ousadias, de gestores públicos e da sociedade.
Eu acho que a sociedade tem participar o tempo todo desta discussão. A gente tem uma tendência aqui no Brasil, achar que construiu uma estrutura a gente não pode desconstrui-la. Teve investimento etc e tal. Mas as nossas cidades são muito cheias de estruturas que destroem o urbanismo, do andar a pé, do contato com o comércio etc.
Acho que é importante a gente pensasse o Minhocão como um projeto, a Prefeitura não deveria olvidar esforços para fazer um plano, quanto custa, o que se pode fazer com o material, como se vai reurbanizar a avenida embaixo, colocar um transporte público leve, que diminua aquela fluxo de ônibus que não é muito bom ali embaixo.
E o mais importante, na minha opinião, São Paulo mostrar durante tantos anos e principalmente na década de 70, esse urbanismo rodoviarista autoritário, a gente retomou a cidade a pé, a cidade do caminhar, do fluir, que sirva também como exemplo.
O Rio fêz recentemente isso, derrubou lá o Minhocão deles (Perimetral), que era uma tragédia também, que cortava a vista para a Baia de Guanabara e o resultado que nós vemos lá hoje é fantástico! Você abriu a Praça Mauá, a história do Brasil começa ali.
Então esses exemplos, na minha opinião, tem que existir. Os gestores tem que ter a coragem de enfrentar.
Mariana Barros: as pessoas usam como área de lazer. Uma vez derrubando, a gente fica sem essa área na região central. Isso seria possível repor de outra forma ou isso seria secundário dentro dessa idéia.
Dra. Elizabeth França: Faz parte do plano urbanístico, o plano estratégico, você pode ampliar as calçadas.
Na Paulista tem calçadas largas e as pessoas usam. As calçadas podem ser arborizadas . O Minhocão não é. Ter ciclovias.
E você tem opções no centro que podem ser ativadas. Você tem a Praça da República que é mal utilizada, que é ali perto. Você tem embaixo a Praça Marechal Deodoro que hoje é uma tragédia completa. Eu moro ali do lado e perdeu-se a pobre da praça.
Você tem o Parque Augusta que poderia ser criado, que é uma área verde, nativa. Tem opções.
Tem a Praça Roosevelt que tem de ser repensada como área de lazer, melhorada. Apesar de ter sido reformada. Ela ainda … existe uns conflitos com a população que mora com os que usam.
Enfim, acho que tudo isso pode ser parte de um plano que vá transformar aquilo num Boulevard, para implantar comércio, poder sentar, passear. Acho que é possível.
Não acho que seja uma opção de parque como as pessoas deveriam ter.
Parque precisa ter árvore, sombra, lugar de lazer. Isso ele (o Minhocão) não tem.
Então, um plano poderia caminhar para resolver isso sem a estrutura pesada que ele é.
http://veja.abril.com.br/multimidia/video/minhocao-entre-parque-e-derrubada
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