Grupo faz protesto silencioso contra restrição de pedestres no Minhocão
JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO
19/03/2017
Fazia frio e o sol já começava a se pôr quando um grupo de pessoas começou uma caminhada em silêncio na tarde deste domingo (19) no Minhocão (Elevado João Goulart), em São Paulo, onde pedestres e ciclistas passeavam.
Eram cerca de cem pessoas protestando contra a possível restrição à circulação de pessoas na via, cogitada pela gestão João Doria (PSDB).
A Prefeitura Regional da Sé estuda diminuir o período em que os pedestres teriam acesso à via aos sábados e aos domingos. Hoje, o Minhocão fecha para carros nos sábados às 15h e só reabre às segundas. Segundo a proposta, a via ficaria aberta para pedestres aos sábados das 15h30 às 19h e aos domingos das 10h às 16h. O local abre para pedestres também durante a semana à noite, a partir das 21h30.
Segundo a proposta, o espaço utilizado também ficaria mais curto –só 1,5 km dos 3,5 km do Minhocão.
Trata-se de resposta ao Ministério Público, que abriu procedimento sobre o uso do local por pedestres. O promotor César Martins, responsável pelo caso, disse à coluna “Mônica Bergamo”, da Folha, que as medidas buscam proteger os frequentadores e diminuir o incômodo de moradores do entorno.
O protesto deste domingo (19) foi organizado pela associação Parque Minhocão, que defende que a via funcione como uma área de lazer. Já outros moradores do entorno, que formam o movimento Desmonte do Minhocão e apoiam a ação do Ministério Público e da prefeitura, dizem que sua abertura para pedestres fere a saúde e a segurança dos vizinhos e defendem sua demolição.
ESPAÇO DE LAZER
Com um cartaz que dizia “Minhocão livre” no carrinho de bebê onde carregava sua filha, o arquiteto Pedro Nitsche, 41, caminhava dizendo que São Paulo tem a “oportunidade de ter um parque, um espaço de lazer a mais” e, por isso, “não pode fechá-lo”.
Para o arquiteto Felipe Rodrigues, 27, membro da associação Parque Minhocão, o espaço é “o único de lazer” que tem como morador do entorno. “Restringir seria um retrocesso. E a demolição não geraria nada para a cidade, porque a prática do esporte e do lazer não seria assegurada. Uma coisa não substituiria a outra.”
Com gritos pontuais como “o Minhocão é nosso” e “vem pra rua”, o silêncio era rompido por manifestantes de quando em quando. Vestidos como os três porquinhos, três atores que apresentavam um espetáculo inspirado na história infantil –adaptando-a para transmitir uma mensagem de “direito à cidade e moradia”, segundo o ator Caio Franzolin, 31–, interromperam a peça para demonstrar apoio ao protesto. “As crianças correm aqui, nesse espaço que é também um de encontros. Precisamos protegê-lo”, disse o ator.
Nos cartazes, lia-se mensagens como “O Minhocão é nossa praia de asfalto, viva”, “Não façam o papelão de fechar o Minhocão”, “Minhocão: gente sim, carro não”.
Após caminhar por quase toda a via, o grupo encerrou o ato às 18h, no acesso próxima à praça Roosevelt. Manifestantes pegaram um alto-falante para falar a favor da abertura do Minhocão. E, ao identificar ali um dos membros do movimento Desmonte do Minhocão, o convidaram a se manifestar também. Ele se negou. À reportagem, pediu para não ser identificado. Disse que era contrário à presença de pedestres na via por causa da poluição e afirmou que a demolição do Minhocão traria lucro para a cidade.
COMENTÁRIOS
Ronaldo Oliveira (01h05) há 7 horas
Já passa a hora de um prefeito de peito demolir este escárnio da arquitetura feito pela gestão Maluf.
Arcaico, mal construído, acabou com a ambiência, degradando a região por onde passa.
Os apartamentos que o vizinham são insalubres. E ainda tem gente que quer ali um parque suspenso, o que vai aumentar a umidade que hoje já existe só em função da sombra que ele resulta.
Este parque será sim um depósito para nóias e drogaditos. Porque não uma via expressa subterrânea como as de Chicago.
Comentário de Francisco Gomes Machado – Diretor de Imprensa do MDM – Movimento Desmonte Minhocão
O MDM–Movimento Desmonte Minhocão- e CONSEG – Conselho de Segurança – e demais associações comunitárias da região informam que consideram oportuna e prudente a iniciativa do Prefeito Regional Sé, Sr. Eduardo Odloak, em consonância as Recomendações dos Comandos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, bem como do Promotor de Justiça, Habitação e Urbanismo do Ministério Público, Dr. César Martins, pela falta de segurança aos usuários e incomodidade insuportável que causam aos moradores.
Consideram positiva a iniciativa de colocação de portões e limitar horário de circulação de pedestres, para preservação de direitos dos milhares de moradores a privacidade, ao descanso e sossego noturno, feriados e finais de semana.
O MDM–Movimento Desmonte Minhocão- e CONSEG–Conselho de Segurança- esclarecem que o Minhocão foi fechado para carros afim de que os moradores pudessem ter direito ao repouso e sossego. Lembrando que o direito ao descanso e sossego é anterior ao lazer.
A ocupação indevida deste viário para área de lazer constitui violação da finalidade inicial, gerando toda espécie de problemas e permitindo que as pessoas desprevenidas estejam em local perigoso, a 8 metros de altura. O Minhocão foi feito para viário e sem condições mínimas de segurança, segundo Laudo Técnico do Corpo de Bombeiros e RECOMENDAÇÕES do Ministério Público e seu uso por pedestres, além de violarem a privacidade dos moradores, e causam incomodidade insuportável.
A repórter da Folha de São Paulo foi orientada a entrar em contato com a Diretoria de Imprensa do MDM, o que lamentavelmente não foi feito.
Não é também lamentável que segundo a reportagem, a associação “parque” Minhocão tenha promovido no elevado, manifestação “silenciosa” (mas com uso de megafones, agredindo o descanso dominical dos moradores), onde grupo de cerca de sessenta pessoas, que se misturando aos pedestres, violaram frontalmente a PORTARIA MUNICIPAL Nº 017-PR-SÉ/GAB/2017, da Prefeitura Regional Sé e RECOMENDAÇÕES do Ministério Público, que vetam eventos no local pelas razões acima indicadas?