Furto de telas de proteção deixa pedestres em risco no Minhocão
Vãos de muretas laterais estão abertos; Prefeitura de SP promete providências
Ricardo Kotscho
SÃO PAULO
No trecho entre o largo santa cecília e a Praça Marechal Deodoro,
cerca de 300 metros de pista estão com os vãos totalmente abertos,
a 8 metros de altura do solo, ;
um perigo constante para crianças e cachorros
que passeiam ali aos sábados e domingos, quando o minhocão vira um parque suspenso
O elevado João Goulart, no centro de SP, passou a ter suas telas de proteção das muretas laterais furtadas, colocando em perigo crianças e cachorros, que passeiam ali aos sábados e domingos, quando o minhocão vira um parque suspenso.
Mudaram o nome oficial de Presidente Costa e Silva para Presidente João Goulart, plantaram jardins verticais em vários prédios, recuperaram o asfalto, fecharam o trânsito à noite e nos finais de semana, mas um novo perigo ronda o “Minhocão do Maluf”, como é conhecido por muitos paulistanos o elevado de 3.400 metros que liga as regiões leste e oeste da cidade de São Paulo.
Com a dispersão da cracolândia por bairros vizinhos, dependentes químicos que vivem sob o elevado e nas praças junto às alças de acesso passaram a furtar as telas de proteção das muretas laterais, feitas de ferro galvanizado e vendidas em casas de sucata.
No trecho entre o largo Santa Cecília e a praça Marechal Deodoro, cerca de 300 metros de pista estão com os vãos totalmente abertos, a oito metros de altura do solo —um perigo constante para crianças e cachorros que passeiam por ali aos sábados e domingos, quando o Minhocão vira um parque suspenso.
Há também falhas em outros pontos do trajeto e não se vê nenhuma placa de aviso para quem faz passeios a pé entre a praça Roosevelt, na Consolação, e o largo Padre Péricles, na Água Branca.
Obra mais contestada da história urbana da cidade, desde a sua construção pelo então prefeito Paulo Maluf, nomeado pelo general Costa e Silva no início dos anos 70 do século passado, o elevado que serpenteia entre prédios já levou até à criação de um Movimento Desmonte Minhocão, que defende a desativação da estrutura de concreto.
Segundo Francisco Machado, diretor do movimento, o custo do desmonte do Minhocão foi orçado em R$ 28 milhões, e o prazo para concluir o serviço seria de seis meses. Mas nenhum prefeito levou adiante o projeto, várias vezes discutido na Câmara.
O Plano Diretor aprovado em 2014 chegou a prever o fechamento total do viaduto aos carros em 2029 —e até lá um aumento progressivo da abertura aos pedestres.
Além da insegurança devido à falta das telas de proteção, outros problemas afetam os 230 mil moradores do entorno do elevado João Goulart.
O maior deles é a poluição sonora e do ar. Estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo apresentado pelo Movimento Desmonte Minhocão indica que o ar no entorno do elevado é 79% mais poluído que o do resto da cidade, provocado em grande parte pela fumaça dos ônibus movidos a diesel.
Outro ponto que preocupa os vizinhos da obra é a segurança, depois que a cracolândia se espalhou pelas ruas do entorno. “Hoje, encontramos traficantes e moradores de rua circulando por ali, que também têm a sua saúde agredida”, diz Machado.
Também há problemas provocados por centenas de pontos de infiltração. O crescimento de arbustos nas fendas do concreto do elevado é um sinal de alerta para a corrosão das estruturas de aço e concreto afetadas pela ferrugem.
Quando estava na prefeitura, em fevereiro, João Doria (PSDB), que saiu do cargo em abril para se candidatar ao governo de São Paulo, vetou o desmonte da obra e chegou a sancionar uma lei que cria o parque municipal do Minhocão, um jardim suspenso erguido sobre a atual pista.
Doria justificou que estudos técnicos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) chegaram à conclusão de que a via não pode ser desativada até que “se proceda as melhorias no sistema viário a ser impactado em decorrência da desativação da via elevada em questão”.
Bruno Covas (PSDB), que assumiu em março, ainda não se manifestou sobre o destino do Minhocão, a grande obra de Maluf, que já completou 46 anos e ainda causa polêmicas. Por enquanto, a via fica aberta para carros de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h.
José Geraldo, 60, e sua mulher Herondina Oliveira, 65, favoráveis à demolição
Fotos: Eduardo Knapp/Folhapress
Nas primeiras horas da manhã e no final da tarde, o Minhocão, que deveria ser uma via expressa, enfrenta congestionamentos diários.
Questionada pela Folha sobre a falta das telas de proteção, a Prefeitura Regional Sé informou que realizará vistoria no local mencionado e tomará as medidas necessárias.
O departamento jurídico registrou boletim de ocorrência de furto dos materiais na região. A gestão Covas informou que, em caso de flagrante de furto do material, a população deve informar a Polícia Militar ou a Guarda Civil Metropolitana, nos telefones 190 ou 153, respectivamente.
O MINHOCÃO
3.400 metros é a extensão do elevado
300 metros de pista estão com os vãos totalmente abertos
7h às 20h é horário em que a via fica aberta para carros de segunda a sexta-feira
2029 foi a data prevista no Plano Diretor para fechamento total do viaduto aos carros em 2029