“O Minhocão precisa ser derrubado o quanto antes”,
afirma Dr. Thiago Silva, Técnico em Transporte RodoviárioPLAMURB
Mobilidade urbana, sustentabilidade,
acessibilidade e saneamento básico.
Tudo de forma clara, séria, sensata,
embasada, confiável e objetiva.
Data: 06/03/2019
Autor: Thiago Silva (*)
Depois de muita indecisão, finalmente, a prefeitura de São Paulo resolveu desativar o Elevado João Goulart (anteriormente Costa e Silva), mais conhecido como Minhocão. Entretanto, e para variar, o serviço será feito pela metade. A circulação de veículos será proibida, porém, o elevado continuará erguido e no local será construído um parque.
Diante dessa decisão, muita polêmica surgiu de ambos os lados, ou seja, daqueles favoráveis ao parque e daqueles que optariam pela demolição. Há, ainda, um terceiro grupo, contrários a desativação do elevado por temerem a falta de alternativas viárias na ligação Leste-Oeste.
O Minhocão foi inaugurado em 1970. Possui 3,4 km de extensão e liga o Largo Padre Péricles, na Barra Funda, à Praça Roosevelt, na região central. A via elevada é usada, basicamente, para fazer a ligação entre as zonas oeste e leste. Desde sua construção, nunca foi unanimidade. De um lado aqueles que justificam a via como forma de melhorar a circulação, além de propiciar a ligação Leste-Oeste de forma rápida. Do outro lado, aqueles que alegam que o elevado degradou a Avenida São João, além de violar a privacidade daqueles que moram nos prédios ao lado.
Nós do Plamurb, já havíamos escrito um pequeno artigo em setembro de 2017, quando a Câmara Municipal havia aprovado, em primeira votação, a desativação do elevado e transformação em parque. De lá para cá, ouvimos a opinião de especialistas e alguns poucos moradores do entorno, e nossa opinião, continua a mesma.
Se a proposta é proibir a circulação veicular, não faz o menor sentido deixar o elevado erguido. Antes, o principal argumento daqueles contrários à desativação era de que não haveria uma rota alternativa. Já que se pretende construir um parque e proibir a circulação veicular, o Minhocão precisa ser derrubado o quanto antes.
A prefeitura, ao propor um parque, quer apenas ganhar visibilidade com uma suposta preocupação com a falta de áreas verdes na cidade, porém, a permanência do elevado continuará com seus aspectos negativos (que não são poucos) e que, praticamente, irão anular os pontos positivos de um novo parque.
Por falar em um novo parque, como andam os atuais parques da cidade? Como anda a manutenção e segurança? Óbvio que o fato de muitos parques da cidade estarem em situação adversa, não implica na proibição da inauguração de novos espaços verdes, porém, o caso do Minhocão é singular e, digamos, dispensável, principalmente no atual momento. Tanto é que parte desses parques estão na lista de concessões.
Vejam que mesmo com um parque bonito em cima, a parte de baixo continuaria degradada e isso não faz o menor sentido.
A Avenida São João é feia, barulhenta, poluída, escura, nociva, enfim, sem vida alguma. Não há privacidade para os moradores dos edifícios vizinhos. Temos, também, o triste problema social dos moradores de rua que vivem sob o Minhocão.
Vale lembrar que no momento a cidade vive uma série de problemas com pontes e viadutos, sendo que muitas dessas estruturas ruíram ou foram interditadas em caráter de urgência. Mantendo o elevado, o cuidado seria dobrado, ou seja, com o parque em si e com a estrutura suspensa. A gestão de Bruno Covas (PSDB), mais uma vez parece bater cabeça em um problema de fácil solução.
O elevado ocupa uma área que quase encobre por completo a Avenida São João. A concentração de poluição é alta sob ele. Há, ainda, uma bolha térmica e sonora. Para quem mora ou trabalha no local é muito prejudicial. Considerando a largura do Elevado e da avenida, há uma área de escape de, aproximadamente, uns 5 metros para cada lado, muito pouco para uma boa dispersão.
A demolição poderia vir acompanhada de uma completa revitalização da avenida e, quem sabe, no futuro, com a implantação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) até a Lapa ou Vila Leopoldina. Ou talvez um Bus Rapid Transit (BRT), bem estruturado e eficiente, preferencialmente operado com trólebus ou ônibus elétricos a bateria. Poderia, também, atrelar a isso, uma melhora significativa na operação da Linha 3-Vermelha e o prolongamento do Expresso Leste até a estação Barra Funda. Desativar o elevado, mas manter a estrutura com um parque é fazer a coisa pela metade.
Percebam que sem o elevado, também não haveria a necessidade dos pilares de sustentação. Sendo assim, o canteiro central poderia ser melhor aproveitado, com a implantação de pista de caminhada, uma nova ciclovia estruturada, trechos de ultrapassagem no corredor de ônibus, bancas ou quiosques comerciais, além da implantação de pisos permeáveis.
Segundo a prefeitura, o custo estimado do parque é de R$ 38 milhões e a previsão de entrega é para dezembro de 2020, pouco depois das eleições municipais, ou seja, caso Covas tente a reeleição, poderá usar o referido parque em sua campanha. Resta saber se terá um impacto positivo ou não.
(*) Thiago Silva
Técnico em Transporte Rodoviário, Técnico em Transporte Ferroviário,
Tecnólogo em Transporte Terrestre,
pesquisador do sistema de transporte público da cidade de São Paulo
com ênfase no modal trólebus.
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