BAND NEWS – DOCUMENTÁRIO
A Realidade do Minhocão
25.3.20
Locutor: Minhocão. Um cinquentão muito polêmico. Foi concebido para ser a salvação do trânsito, mas logo foi considerado uma ferida aberta na cidade.
Chegou a ser eleito a obra mais feia de São Paulo.
Esse cinquentão agora tem prazo para mudar definitivamente o seu destino. Tem até 2029 para acabar com a circulação de carros nas suas vias.
Maluf: Iniciamos o projeto há cerca de três meses que hoje está sendo entregue, que é a maior obra em concreto armado de toda América Latina.
Locutor: Em 1969 o então Prefeito nomeado anunciava a construção do que considerava uma grande obra de engenharia, fundamental para ligar as regiões leste e oeste de São Paulo.
Maluf: Esta obra, com quase três quilômetros e meio de extensão , em via elevada, toda em concreto protendido, pré-moldado, com o custo de trinta e sete milhões de cruzeiros novos, aproximadamente, inaugura uma nova sistema viário para a cidade de São Paulo e que tem sido aplicada em outras capitais do mundo.
Locutor: As obras prosseguiram em ritmo acelerado. Em 14 meses estavam prontos os três quilômetros e meio de vias suspensas , a cinco metros e meio do chão.
Nabil Bonduki, arquiteto e urbanista: Isso faz parte da lógica daquele período. Era a lógica de abrir o viário para o automóvel. O automóvel como a grande prioridade da cidade. Uma visão que orientou todo o desenvolvimento da cidade na segunda metade do século XX, praticamente a partir dos anos 30, né, do século XX. E que chega envelhecida no século XXI.
Locutor: O elevado trouxe muitos impactos negativos para a região e seus moradores. Dividiu bairros pela metade, separando áreas mais chiques do centro mais degradado.
Invadiu a visão dos apartamentos dos prédios vizinhos com um barulho ensurdecedor . muita poeira e poluição.
Já nos anos 70, a circulação de carros foi suspensa à noite. Em 1989, o elevado passou a ser fechado também aos domingos. E essa proibição foi estendida para os sábados e feriados.
Iarlei Rangel, ator do Esparrama: A gente nunca pode esquecer que eu moro do quarto andar para cima. Quem mora do quarto andar para baixo continua com as mesmas desgraças que é de viver num espaço escuro, debaixo de uma concha que é esse espaço, com muito ruído, mesmo no final de semana, quando tem menos carros, é muito ruído. Muita poluição.
Então, a gente não pode achar que para a gente melhorou, para todo mundo está bem. Esta é uma discussão que a gente tem quando a gente vai discutir o Minhocão.
Locutor: Em 2014, o Plano Diretor de São Paulo previu a transformação do elevado em parque ou a sua demolição e o fim da circulação de carros em suas vias até 2029. Passam pelo Minhocão cerca de 70 mil veículos diariamente.
Francisco Machado – Diretor do Movimento Desmonte Minhocão: A cidade de São Paulo vai parar… então, uma espécie de Armagedon viário que vai ocorrer na cidade de São Paulo.
Isso tudo é uma nuvem de fumaça, que não tem base na realidade.
Hoje, a CET, segundo dados estatísticos da CET, o trânsito no Minhocão é diminuto em relação ao trânsito inicial . Porque? De 71, quando o Minhocão foi inaugurado até 2014 quando foi feito o Plano Diretor da cidade de São Paulo, houve as duplicações das pistas das Marginais, a Marquês de São Vicente e vários outros viários. Hoje está na faixa de 70 mil veículos/dia. Isso para a CET é irrisório.
Locutor: Em 2018, mais um passo determinante para o futuro do Minhocão. É aprovada uma lei que oficializa a criação de um parque no local.
Neste ano, o Prefeito Bruno Covas chegou a anunciar a implantação de um parque linear , num trecho de 1 kilometro , entre a Praça Roosevelt e o Largo do Arouche. Os carros andariam por baixo, na rua Amaral Gurgel e na São João, voltariam ao elevado.
Mas o projeto nem saiu do papel.
O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a lei , alegando falta de estudos sobre os impactos urbanísticos da obra na região.
Com o fim da circulação de veículos já definido, a questão agora é que tipo de parque? Um parque elevado ou no chão?
Manter e aproveitar a estrutura do elevado ou derrubar de vez?
Existe movimento de moradores e associações locais que querem o parque linear suspenso. E outro, que luta pelo desmonte do elevado.
Francisco Machado – Diretor do Movimento Desmonte Minhocão: O Minhocão, ele é um problema estrutural. E a única opção válida é o seu desmonte. Não há outra solução racional e válida que não seja desmontar essa estrutura, requalificar a região, reurbanizar, retomada do comércio, retrofit em centenas de prédios que são de art decó, que podem ser atrativos turísticos e que estão hoje inteiramente detonados: comércio e prédios.
Um viaduto que foi construído , diria o Conselheiro Acácio, para viário e não para pessoas transitarem lá em cima. Não há as mínimas condições de segurança. Não há as mínimas condições das pessoas estarem ali, bem, como se estivessem num parque. Nós estamos andando em cima de uma laje de concreto e de asfalto, condensadora de calor e de poluição.
É impossível fazer uma demolição , que requer implosão. Então, por um lado, é até mais fácil, porque o desmonte das 900 vigas que constituem o elevado João Goulart é até mais simples, porque estas vigas são desmontadas , todas, em número de 900 vigas, são todas reaproveitáveis , mais ou menos como quem monta um lego e desmonta um lego.
Nabil Bonduki: Nós não podemos entender esse parque como se fosse um parque de área verde. Acho que não tem muito sentido. Se pensar o tamanho do Minhocão, de área verde, é pequeno. E além do mais é muito difícil você plantar uma área verde numa estrutura de concreto. Eu acho que ele é uma área de lazer.
Locutor: O que fazer com o Minhocão? Deve ser o reflexo de toda essa discussão.
Kleber Brianez, ator: Muita discussão vem acontecendo em torno do que vai ser feito com esse Minhocão. Se ele vai ser implodido. Se ele vai virar parque. Se uma parte vai fechar. A gente acredita no diálogo. A gente acredita nessa via de mão dupla: de ouvir, de colocar as idéias e de ouvir o que as pessoas que moram aqui, principalmente, tem a dizer.
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NR: em pesquisa recente, realizada pela Secretaria de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo, para ouvir os munícipes sobre o que fazer com o Minhocão, o revelou que 47% das pessoas querem o Desmonte e apenas 14% são pelo “parque” na laje de concreto e asfalto do elevado.
https://www.minhocao.net.br/prefeitura-revela-pesquisa-aponta-que-47-querem-o-desmonte-do-minhocao/