TV Câmara de São Paulo
São Paulo, 15 de abril de 2016 – 19 horas
Repórter TV Câmara SP – Gilberto Nascimento: Principal via de integração entre as zonas leste e oeste de São Paulo, o Minhocão é criticado por causa do barulho e da poluição. Também por ter deteriorado uma importante áea do centro paulistano.
O elevado, construido na década de setenta, agora tem os seus dias contados. O Plano Diretor da cidade prevê a sua desativação em quinze anos. Mas, há dúvida sobre seu futuro.
Derrubá-lo ou transformá-lo em um parque? Moradores, comerciantes e frequentadores da área travam uma intensa polêmica em torno desta questão.
Eu sou Gilberto Nascimento e este é o Diálogo São Paulo.
Bem vindos. Hoje o tema do Diálogo São Paulo é Minhocão: parque ou Desmonte?
Para debater este assunto recebemos o engenheiro e presidente da associação parque Minhocão,
Athos Comolati. E também Francisco Machado, integrante do Conseg da Santa Cecília e Diretor do Movimento Desmonte Minhocão.
O debate sobre o futuro do elevado mobiliza os moradores da região.
Entrevistador: Francisco, para você, qual o significado dessa lei do Prefeito Fernando Haddad?
Francisco Machado, Diretor de Assuntos Sociais e Comunitários do CONSEG Santa Cecília e Diretor do MDM – Movimento Desmonte Minhocão: Eu sou morador há praticamente vinte anos perto do Minhocão. Conheço os problemas todos que ele acarreta para a saúde e segurança da população , trava o progresso da cidade.
Mas, gostaria de dizer o seguinte: a idéia de parque é muito simpática. Todos nós, em sã consciência somos a favor de parque. Certo?
Inclusive o Minhocão que tem uma extensão de 3 kms e 400 metros, ele é considerado uma ilha de calor no centro de São Paulo, com todos os problemas negativos que isso acarreta para a saúde da população.
Então, somos favoráveis a parque , não só um, mas a vários parques em São Paulo.
Mas, agora, parque sobre um viaduto é o local mais inadequado que se possa pretender.
Entrevistador: Porque razão?
Francisco Machado: Porque o elevado foi feito para viário. A finalidade dele é para passar carros e não para parque. Ele foi construido na década de setenta do século passado, vai fazer quarenta e cinco anos. Ele foi imposto a população. É uma aberração urbanística.
Os urbanistas, arquitetos, engenheiros , os mais renomados qualificam isso: é uma aberração urbanística. Uma cicatriz no rosto da cidade de São Paulo. Quer dizer, enfeia a cidade de São Paulo.
É uma estrutura decrépita e que foi imposta a população: um viaduto passando no meio de prédios residenciais. E foi imposto sem estudo de impactos ambientais: à saúde, sobretudo, e a segurança dos mais de 230 mil moradores que residem ao longo do Minhocão.
A estrutura do Minhocão é um problema gravíssimo. É um problema de saúde pública, segurança também. Eu tenho depoimentos aqui , de vários especialistas. Para não se dizer: ah não, você não é da área , portanto como você vai dizer que atinge a saúde pública? De onde senhor tirou isso?
Então, se você me permite, eu leio apenas um depoimento de uma autoridade. Ou duas, se você me permitir. Dr. Marcos Martins. Ele é Assistente do Prof. Paulo Saldiva, da USP. Textual. “O fato do Minhocão estar a cinco metros das janelas das pessoas, isso gera um problema de saúde muito grande. Elas tem uma chance muito maior de ter um enfarte do miocárdio e de ter um derrame cerebral”.
Mas isso são estudos. Estudos científicos, especialista que está falando. Quer dizer, isso agride a saúde das pessoas que residem ao longo do Minhocão.
Entrevistador: A avaliação do senhor é de que transformando num parque esses problemas todos continuam?
Francisco Machado: Não só continuam , mas vão piorar. Piorar porque? O viário de cima, necessáriamente ele vai passar para debaixo. E vai duplicar o efeito das poluições atmosférica, sonora e visual.
Porque? As pistas do Minhocão , elas funcionam, numa linguagem muito caseira, como uma espécie de tampa de panela. Que não permite que os milhares de carros, ônibus, ambulâncias, que passam embaixo e que ejetam de seus escapamentos , dos seus milhares de escapamentos , monóxido de carbono, que todos sabem que é altamente nocivo à saúde humana, é cancerígeno inclusive.
E esses gases poluentes, nocivos à saúde humana, eles não vão se dispersar pela atmosfera extamente por causa das pistas do Minhocão. Então, o que vai ocorrer é que vai haver uma concentração desses gases poluentes , nocivos à saúde pública, ali embaixo e vão os comércios, os restaurantes onde as pessoas estão almoçando, contaminando a alimentação, Invadindo os prédios. Invadindo os comércios.
Quer dizer, é uma coisa que vai ser uma cascata de problemas que vão duplicar.
Athos Comolati: Vamos a argumentação principal. O Minhocão foi feito para ser uma via elevada, logo ele não pode ser um parque. Essa é uma afirmação, não é só o Francisco que usa, mas vários urbanistas, várias pessoas que opinam sobre o Minhocão.
Se fosse seguir esse raciocínio, o SESC fábrica Pompéia jamais seria o maior sucesso de área de lazer da população paulistana.
Entrevistador: Porque exatamente?
Athos Comolati: Porque aquilo lá era uma fábrica de tambores. Foi construida para ser uma fábrica de tambores. Eu consultei. Uma fábrica de tambores antiga, que era muito central, o valor do imóvel era muito grande . Foi para outros lugares e o SESC comprou e através da mão da Lina Bo Bardi, uma das maiores arquitetas que viveu aqui no Brasil, transformou no SESC fábrica Pompéia. É uma fábrica. Então se a gente dizer: olha você nasceu para ser fábrica, você vai morrer fábrica, não pode ser outra coisa. É um pensamento da década de 30, onde as coisas nasciam e morriam do jeito que eram. Hoje você tem todo processo de reaproveitar , significar, transformar.
Você hoje tem uma área de lazer fantástica em Berlim, que é um aeroporto abandonado. Que ele foi ocupado espontaneamente pela população berlinense como área de lazer. Alguém vai falar: o que que um aeroporto , uma pista de aeroporto tem a ver com área de lazer? Maior sucesso. Tanto é que existe uma resistência enorme da população berlinense para que esse local não seja loteado, não seja feita construções.
Entrevistador: A gente faz um rápido intervalo e daqui a pouco a gente volta.
Entrevistador pergunta a pessoas: A senhora é a favor do parque ou da derrubada do Minhocão?
Entrevistada: Eu, na minha opinião, nós mora aqui, nós queria que derrubasse mesmo! Mas já que não vai ter condições de derrubar isso aqui, eu sou a favor do parque, mas que dê uma arrumada embaixo, né?
(…) Entrevistada: Embaixo atrapalha. Em cima atrapalha. Dos lados atrapalha. Eu sou a favor que isso fosse ao chão, cara. Eu acho que tinha que derrubar.
Entrevistador: O Diálogo São Paulo fala hoje sobre o futuro do Minhocão: parque ou desmonte? Recebemos aqui Athos Comolati, presidente da associação parque Minhocão e Francisco Machado, Diretor do Movimento Desmonte Minhocão.
Francisco, o Minhocão se for mantido do jeito que está ele necessitará de manutenção. Será caro. Se for transformado em parque tem um alto custo. Para ser desmontado também não será nada barato. O que você acha dessa questão?
Francisco Machado: A reutilização de espaços públicos como o SESC Pompéia, como o aeroporto que ele citou, é uma coisa elogiável. É uma coisa elogiável. Nós concordamos que se faça esse reaproveitamento.
Agora, são duas coisas completamente distintas. Não estou conseguindo acompanhar a lógica do pensamento dele.
Porque uma coisa é o Minhocão , um viaduto com 2kms e 700 metros como ele disse, ao longo de prédios residenciais e outra coisa é uma fábrica metida num bairro ou um aeroporto afastado.
Não tem nada a ver lé com cré.
Agora, outra coisa também que causa espécie é o seguinte: dizer que só porque fecha uma rua no sábado ou no domingo … aliás a ex-Prefeita Erundina quando ela mandou fechar de muito boa vontade o Minhocão à noite, foi para que as pessoas, os moradores conseguissem abrir as janelas , respirar um pouco de ar puro e não ter sua privacidade invadida, como é o caso de pessoas andando a poucos metros de sua janela, de seu quarto, de seu toilete. Certo?
Agora, fechar uma rua para pedestres num fim de semana e depois aplicar ali a palavra parque , eu acho um pouco exagerado.
Imagine você o seguinte: que aqui , na frente da Câmara Municipal de São Paulo, de feche no sábado e no domingo essas duas pistas. Os moradores vão descer, para passear. Agora tem um parquinho aqui do lado. Vai ser uma maravilha. Vai ser ótimo para os moradores.
Agora, em sã consciência , como é que uma pessoa pode dizer: não, nós já temos o Parque Câmara Municipal de São Paulo. Ninguém merece, não é, uma observação dessa.
Mas enfim, não entendi onde liga lé com cré.
Mas sua pergunta Gilberto, qual seria? A questão dos custos, não é?
Entrevistador: Você tem idéia do custo do desmonte?
Francisco Machado: Tenho idéia e gostaria de em primeira mão para a TV Câmara dizer isso para o público.
Fala-se muito do High Line em Nova York, precisamos copiar. Copiar a Perimentral que foi desmontada, não se fala. Aliás está ficando linda lá no Rio de Janeiro. Um novo cartão postal. Não se fala em copiar o desmonte da Perimetral.
High Line. O High Line, Segundo recorte que tenho aqui, a história do High Line, caderno especial de domingo, caderno ALIÁS do Estado de Paulo, vem com a história do Hgh Line, como foi e os custos. Até aquela época, o High Line custou 240 milhões de dólares para ser adaptado a aquele parque.
Que aliás, diga-se de passagem, é preciso esclarecer, o High Line não passava no meio de prédios residenciais. Não passava.
O High Line é completamente outra coisa. 240 milhões de dólares. Tem seis de largura e quase dois de extensão. Multiplique-se isso… para adaptação…
O Minhocão tem dezessete de largura por 2 kms e 700 metros de extensão. Faça-se o cálculo. Multiplique-se isso pelo dólar atual, isso vai dar mais de um bilhão de reais.
Entrevistador: Você concorda com esses valores Athos?
Athos: Olha Francisco, é assim, é claro que o papel aceita qualquer coisa…
Francisco Machado: … papel, não! É O Estado de São Paulo, o maior jornal, o jornal de maior respeitabilidade de nossa cidade que publicou.
E outra: ninguém contestou.
Entrevistador: Eu cheguei a ler uma coisa na ordem de 750 milhões de dólares.
Athos: Mas estamos falando do High Line gente…
Francisco Machado: … que é de onde você se baseia para querer fazer (parque) no Minhocão.
O parque em cima do Minhocão. Que é uma idéia completamente absurda! É uma insanidade! É literalmente uma insanidade fazer parque em cima do Minhocão!
Como é que vai plantar árvore em cima do asfalto? Tenha dó! Ninguém merece uma coisa dessa! Vamos cair na real.
E outra, eu queria aproveitar e esclarecer em primeira mão: nós já fomos atrás de firmas … porque se fala muito. E as palavras vão ao vento. Eu tenho aqui o estudo, o orçamento… há várias firmas especializadas de desmonte de viadutos, de prédios, seja o que for. Nós pegamos uma delas e pedimos para fazer um orçamento . Chama-se DESMONTEC. É uma firma que tem quarenta anos de mercado . Materiais que eles usam de primeiro mundo. Fizeram o orçamento. Fizeram um power point o desmonte do Minhocão… Entrevistador: … qual o valor?
Francisco Machado: 28 milhões de reais. Isso para a Prefeitura é simplesmente irrisório.
Isso inclusive já foi apresentado em uma reunião com a Subprefeita, Sra. Nádia Campeão, Sr. Subprefeito da Sé, Sr. Alcides Amazonas, na SIURB – Secretaria de Obras do Município.
Aliás, fizemos essa exposição a pedido do Sr. Prefeito, Sr. Fernando Haddad, e eles ficaram realmente impressionados.
É uma obra limpa, Hoje nós temos tecnologia de primeiro mundo para se desmontar essa tralha . Em seis meses. E é tudo reaproveitado. Então vai gerar inclusive caixa para a Prefeitura.
De um lado o parque entre mil aspas, é só gastos.
Desmonte é só lucro em todos os sentidos: para a saúde, para a segurança e para o progresso da nossa cidade. E não entravar… (o Minhocão) isso é um entrave na cidade de São Paulo ao nosso progresso.
Nós temos que pensar que nós estamos no século XXI e não há quarenta e cinco anos atrás do século passado.
Entrevistador: Sr. Francisco, o tempo está praticamente no final, mas gostaríamos de ouvir as considerações finais do Sr.
Francisco Machado: Pois não Gilberto. Nós temos uma página na Internet, no Facebook – Movimento Desmonte Minhocão.
Temos um Site https://www.minhocao.net.br/
muito acessado .
Gostaríamos de dizer que nossa posição é a favor do desmonte, em benefício da saúde, da segurança das pessoas e do progresso da nossa cidade.
Não vamos ficar emperrados com uma estrutura decrépita, com milhares de pontos de infiltração, sem manutenção. Nós temos que ser muito realistas. Temos que ter o pé no chão.
Ainda esses dias, a VEJA SP – Vejinha – publica uma matéria sobre a Praça Roosevelt. Se gastou 55 milhões para se fazer uma reforma numa praça da região central. Está lá… abandonada… o repórter da VEJA contou na hora que ele estava vendo, doze ratos, tudo degradado, banheiros fechados, tudo quebrado, quiosques.
Agora vocês multipliquem isso… é uma questão de lógica… de raciocínio… multipliquem isso por 2 kms e 700 metros de Minhocão.
Em frente de sua casa. Em frente sua residência. Sem segurança, sem privacidade, sem nada. Isso é um verdadeiro absurdo! Isso é uma aberração!
A idéia de parque sobre o Minhocão é uma aberração!
Entrevistador: Ok Francisco. Muito obrigado pela participação. Infelizmente nosso tempo se esgotou.
Queria deixar desde já um convite para vocês para um próximo Diálogo São Paulo sobre esse tema.
O Diálogo São Paulo de hoje fica por aqui. Voltamos na próxima semana. Até lá.
NR: assista as partes principais do debate acessando
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