Leão Serva: “Os defensores do Desmonte alegam que não é só o trânsito de veículos que prejudica a cidade, mas a estrutura em si. O Minhocão pode ser simplesmente derrubado.”

Ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor 

e coautor de ‘Como Viver em SP sem Carro’. Escreve às segundas, quinzenalmente.

Dilma e o Minhocão, a queda e o futuro

           Vejo semelhanças entre o Minhocão, a via elevada que cruza o centro de São Paulo, e a situação da presidente Dilma Rousseff. 
         
          Creio que os destinos de ambos já estão selados. 
         
          Se estou certo, a presidente, como a avenida, já acabou. A disputa que se trava agora é pelo enredo da narrativa: a imagem a ser projetada para o futuro. Será de uma pura tragédia, um erro histórico, ou reservará uma memória mais favorável, talvez até glamorosa?
  
         
          O Minhocão pode ser simplesmente derrubado. 
         
          Ficarão as fotos de um monstrengo e algumas estacas enterradas, como fósseis de dinossauros, para que um historiador do futuro possa descobrir em alguns séculos até onde pode ir a aberração do poder público, quando se sente acima do bem e do mal, ao conceber intervenções na vida dos cidadãos.
         
          A disputa que atualmente travam duas entidades, Associação Parque Minhocão e Movimento Desmonte Minhocão, no entanto, busca determinar a crônica de seu ocaso. 
         
          O Plano Diretor determinou o fechamento da avenida em um horizonte de tempo (15 anos) e deixa para decisão posterior a escolha entre derrubar a estrutura e mantê-la de pé como uma área verde.
          
          Os defensores do Desmonte alegam que não é só o trânsito de veículos que prejudica a cidade, mas a estrutura em si. 
         
          Portanto, virar área verde não resolveria. 
         
          É preciso apagar o Minhocão do espaço que ocupa há 45 anos. 
         
          Os militantes do Parque alegam que os moradores já se apropriaram da via elevada como uma importante referência de lazer e relação com o tecido da cidade, cabe ao poder público reconhecer essa realidade e incrementá-la.
         
          Manter o Minhocão de pé (inteiramente ou em parte) e dar a ele um uso simpático, pode corresponder ao que Berlim fez com seu antigo Muro: hoje parcialmente preservada, a ruína incorporou a arte de rua, a cidade vê naquele espectro a memória do mal e sua superação, e sente orgulho. (…)
         
          Dilma pode cair: sua capacidade de inflar crises sugere um destino inexorável. No dia seguinte, o Brasil entrará em nova rotina, escândalos, pacotes econômicos, a Copa América, eleições municipais, uma nova edição do Big Brother e logo chegará a Copa do Mundo e mais uma eleição presidencial. Em poucos anos, o país lembrará dela como uma imagem fora de foco.
         
          Seus apoiadores, no entanto, resistem. Mais do que a superação do impeachment, creio, buscam escrever a história que será lembrada no futuro, determinar que os livros falem de um golpe, trama que impediu a presidente de governar, que gerou uma profunda crise econômica e a impediu de redimir a pobreza e implantar a pátria educadora.
         
          E Dilma tentará ganhar um lugar mais nobre na história, sua incompetência eclipsada pela imagem da vítima de uma trama golpista.
         
          É sintomático que o PT, que nasceu como uma nova esquerda, crítica ao mesmo tempo do populismo getulista, derrotado em 1964, e da hegemonia comunista, hoje se compare com Getúlio e Jango em discursos sobre a possível queda de Dilma.
         
          Ao final, só restará o pó e ele não tem memória. Nos dois casos, a disputa é pela imagem a ser deixada para a história. (…)
Comentários:
     1 – Vamos chamar de “parque” Avenida Paulista só porque ela é fechada aos domingos para viário e usada por pessoas para lazer? Lembrando que o Minhocão está a 8 metros de altura, sem segurança para as pessoas. 
     
     O problema do Minhocão é sua estrutura: poluições em níveis agressivos, falta de segurança e emperra o progresso desta área central.
     
     Porque não se faz como os cariocas fizeram com o Minhocão local, a Perimetral? Lá, o local está ficando lindo.
     2 – Como deve ser uma pesquisa? Com objetividade ou simplesmente perguntar a favor ou contra? 
     
     Para a pessoa tomar uma posição consciente, não seria razoável esclarece-la  do problema?  

     

     Por exemplo: em relação ao Minhocão. As pessoas são informadas dos malefícios à saúde do monóxido de carbono dos milhares de escapamentos dos carros que passam diariamente por cima e por baixo? Que ele é cancerígeno? Que os níveis de ruído estão 100% a mais do que as normas da ABNT? Que provoca PAIR (perda de audição)? 

     
Francisco G. Machado Diretor do MDM e CONSEG
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/leaoserva/2016/04/1759476-dilma-e-o-minhocao-a-queda-e-o-futuro.shtml

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