MINHOCÃO: POLUIÇÃO E DEMÊNCIA – ESPECIALISTA E ESTUDOS CIENTÍFICOS MOSTRAM COMO AGRIDE À SAÚDE MORAR A POUCOS METROS DE VIADUTO, COMO O MINHOCÃO

Folha de São P

Drauzio Varela

Drauzio Varella

Médico cancerologista, dirigiu o serviço de Imunologia

do Hospital do Câncer. Um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil

e do trabalho em prisões. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

Poluição e demência

Drazio Varela 1 artigo ilustração

18/02/2017

     (…) Como a faixa etária que mais cresce na população do Brasil e de muitos países é a que está acima dos 60 anos, o número de pessoas com demência aumenta sem parar. Começa a ficar difícil encontrar uma família que não tenha um caso.

     Os fatores que aumentam o risco de demência têm sido muito estudados. Embora sobrem dúvidas e detalhes obscuros, os mais importantes parecem ser as propensões genéticas, a falta de escolaridade, os traumatismos, os acidentes vasculares cerebrais, a vida sedentária e o fumo.

     Há farta literatura a demonstrar que a inalação de partículas finas e ultrafinas aumentam a incidência de asma, câncer de pulmão e doenças cardiovasculares. Estudos recentes, no entanto, levantam a suspeita de que possam também acelerar o declínio cognitivo.

     Com os equipamentos modernos conseguimos detectar no ambiente até partículas ultrafinas, 200 vezes menores do que um fio de cabelo. Com eles é possível calcular as concentrações de sulfato, nitrato, amônia, carbono e metais pesados no ar das cidades. Esse particulado ultrafino cai na categoria dos poluentes classificados como PM2,5.

     Níveis altos de partículas PM2,5 nos tecidos humanos provocam estresse oxidativo, caracterizado pela produção de substâncias quimicamente ativas –como os peróxidos– que podem danificar o DNA e outras estruturas celulares.

     A primeira suspeita de que a poluição seria fator de risco para demência veio     quando Lilian Garcidueñas mostrou que cães idosos das áreas mais poluídas da Cidade do México apresentavam perda de memória, desorientação e dificuldade de reconhecer os donos. Nas autópsias, a neurocientista encontrou no tecido cerebral placas da proteína beta-amiloide, as mesmas da doença de Alzheimer. Achados semelhantes foram documentados em cérebros de ratos mantidos em ambientes poluídos: maior número de placas, atrofia de neurônios e perda de sinapses.

     Um grupo da Universidade da Carolina do Sul acaba de publicar uma pesquisa em que os participantes foram acompanhados durante 11 anos. As mulheres mais velhas que moravam em lugares nos quais os índices de poluição eram mais altos do que o limite máximo estabelecido pela EPA –a agência de proteção ambiental–, apresentaram o dobro do número de casos de demência.

     Se esses dados puderem ser extrapolados para o restante da população americana, a poluição seria responsável por 21% dos diagnósticos da doença.

     Em artigo publicado na revista “The Lancet“, pesquisadores da Universidade de Toronto acompanharam 6,6 milhões de habitantes da província de Ontário. Os que viviam a menos de 50 metros de grandes rodovias apresentaram risco de demência 21% mais elevado, do que aqueles com casas a mais de 200 metros.

     Os dados mostraram que residências a menos de 50 metros de uma rodovia, expõem os moradores a concentrações de poluentes dez vezes maiores do que aquelas a 150 metros de distância.

     Um inquérito realizado entre 19 mil enfermeiras americanas aposentadas confirmou que quanto maior a concentração de partículas PM2,5 na vizinhança, mais rápido o declínio cognitivo. Para cada aumento de dez microgramas dessas partículas por metro cúbico de ar, a performance nos testes de atenção e memória declinou como se as participantes fossem dois anos mais velhas.

     Fatores genéticos podem proteger ou aumentar o risco de demência. Portadores do gene APOE4 –ligado ao risco de Alzheimer– são especialmente sensíveis aos ambientes poluídos. (…)

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2017/02/1859668-poluicao-e-demencia.shtml

     NR MDM: os resultados dos estudos e pesquisas científicas não alertam as

autoridades sobre o crime contra a saúde pública, a perpetuação da carcaça

do famigerado Minhocão, viaduto construído passando a poucos metros de

prédios residenciais, ao longo dos seus 2 kms e 800 metros?

     Não foi impressionante o alerta do Promotor de Justiça do Meio Ambiente

do Ministério Público, Dr. Marcos L. Barreto, que após pormenorizado estudo

sobre as condições degradantes e altamente nocivas à saúde em que vivem

milhares de moradores ao longo do Minhocão, afirmou:

     “Que esse martírio tenha um fim!

     Isso é razoável.

     Que se proceda o DESMONTE!

     Não tem outra alternativa”.

        Será que os milhares de moradores que vivem ao longo do Minhocão não tem

direitos humanos?

     Não tem direitos à saúde e segurança?

     Esses direitos não estão garantidos pela Constituição?

     Não impressiona a insensibilidade de elementos que querem, a qualquer

custo, perpetuar essa carcaça viária, com todos os problemas que agridem a

população local, entrava o progresso da cidade, impede a revitalização dessa

importante  área central, desenvolvimento do comércio e transformação em

belo  e turístico Boulevard?  

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