Profa. Dra. Vera Santana Luz,
Arquiteta, Urbanista,
Doutora pela FAUUSP,
Profa. da FAUPUC de Campinas,
Conselheira do CAU/SP na gestão atual.
Co-autoria em projetos ligados
à questão de sustentabilidade
com certificação AQUA-HQE, atingindo a maior pontuação no Brasil na fase Programa e Concepção.
NR: recebemos da Profa. Dra. Vera Luz, a mensagem que transcrevemos a seguir, bem como colaboração sobre o Desmonte do Elevado Costa e Silva – Minhocão.
MENSAGEM – “Seu movimento MDM é muito sério e comprometido com interesses urbanos que transcendem a população local embora nesta se baseie. Há que se ter equilíbrio e perceber a dimensão histórica dos territórios urbanos e as reais possibilidades de futuro amplo e abrangente, sem cacoetes e soluções superficializadas. Tenho muito respeito por nosso Prefeito e seus colaboradores administrativos e creio que será demonstrada como possibilidade acertada a hipótese do desmonte”. ARTIGO – O Minhocão é uma aberração urbana em sua origem, prestigiando o sistema viário de passagem predominantemente de veículos automotivos individuais, por meio de uma estrutura suspensa que descaracteriza e estigmatiza o tecido urbano envoltório e seus baixos. O Minhocão é uma aberração urbana em sua origem, prestigiando o sistema viário de passagem predominantemente de veículos automotivos individuais, por meio de uma estrutura suspensa que descaracteriza e estigmatiza o tecido urbano envoltório e seus baixos, por consequência depauperando os conjuntos edificados e seus usos predominantes residenciais e comerciais. Destitui a qualidade do sistema de espaços públicos em grande porção do centro histórico, que deve ter, por pressuposto, fundamental caráter simbólico e potência de utilização coletiva sem prejuízo dos moradores locais. A hipótese de transformar a estrutura do elevado em parque, eventualmente tomando como premissa projetos de referência internacionais, não se sustenta como analogia urbana. A área central histórica é única e não merece adaptar, por costume, camadas equivocadas em sua constituição. Não se trata somente da utilização viária mas da morfologia urbana que foi rompida. É uma inadequação in totum. Do ponto de vista orçamentário, conforme demonstra recente consultoria realizada pelo MDM – Movimento pelo Desmonte do Minhocão, os custos de remoção seriam incomparáveis e a ação perfeitamente exequível, tendo como possibilidade o reaproveitamento completo dos materiais e elementos, o que tem potencial, inclusive, de se realizar como uma operação de lucro. No caso do centro de São Paulo, a contiguidade da plataforma junto às habitações e o nefasto tamponamento de seus baixos perpetuariam a descaracterização e prejuízo da área na opção parque suspenso. Demonstrou-se também que o desmonte tem viabilidade técnica sem transtornos para o cotidiano local e, no meu entender, constitui-se como única e necessária possibilidade. Muito preocupante, me parece, o recente ato municipal de nomear o elevado com o termo parque, naturalizando forçadamente, pela nomenclatura, a adaptação da vida urbana coletiva a condições nefastas como um fato desejável e suficiente. Toma-se como tradição popular e exalta-se essa adaptabilidade de improviso e resistência dentro da precariedade e perde-se de vista o arco da história em sentido amplo e de outros paradigmas de qualidade urbana contemporâneos muito mais discretos, leves e includentes, cujo desenho precisa ter como pressuposto o incômodo mas necessário reconhecimento de modelos pregressos equivocados e a simples restauração como medida de futuro.